segunda-feira, 15 de agosto de 2011

ELA

    Segunda feira. Recomeço. Muitas coisas pendentes para resolver. Eu como sempre atrasado para o início da loucura de uma nova semana. Vou andando apressado, mas isso já é normal. As vezes ando assim, mesmo sem precisar.Acho que a rotina já me contaminou ou me robotizou, sei lá. Hoje tenho que voar. Mil horários a cumprir. Vou cortando a praça rapidamente para ganhar tempo, junto as buzinas, conversas, ofertas, músicas e meus passos socando o chão. De repente esbarro em alguém e derrubo as coisas que em suas mãos estavam. Livros, papéis. Ia me atrasar ainda mais.Abaixei e juntos colocamos tudo de volta em suas mãos. Ela me pediu desculpas seguidamente. Eu querendo sair dali o mais rápido possível  e ela querendo me explicar o que ocorreu. E por mais que eu dissesse que estava tudo bem e já colocando o pé a frente ela me segurou pela mão e começou a falar: Eu me  distraí procurando um pássaro  que cantava bem ali naquela árvore. Era um canto tão lindo. Você não ouviu? Como alguém consegue ouvir um pássaro neste mundo multi-sonoro. Que mulher é esta? E para o meu desespero ela continuou: Eu vinha lentamente procurando o canto do pássaro e quando localizei, virei tão rápido, me perdoe, esbarrei em você. Eu disse que estava tudo bem e segui a mil por hora.
     Reuniões cansativas, problemas, sanduíches, cafezinhos, correria, mais sanduíches. Onze horas da noite. Lar doce lar. Banho, leite quente, cama e sonho. Era ela. Estava no meu sonho. Pude ver tudo o que aconteceu. Ela ia lentamente procurando o canto do pássaro. Lentamente procurando. Usava um vestido comprido com flores na barra, um casaquinho branco e botas nos pés.Tinha cabelos longos, escuros e bem fininhos, onde o vento brincava. Livros e papéis nas mãos. Quando virou pude ver seu rosto. Lindo. Sorriso de menina. Ajudei-a com os livros e papéis. Ela me agradeceu, explicou tudo e se foi. Fiquei acompanhando-a com o olhar até sumir em uma esquina.
     O despertador toca, porém eu não me levanto correndo e nem instantaneamente coloco o meu relógio de pulso. Sei que é terça-feira, sei que deveria correr. Coloco a roupa mais leve que tenho. Vou até a praça e por um instante neste mundo louco, escuto o canto de um pássaro. Fico atento procurando de onde vem o som. Lentamente procurando. E de repente localizo e viro rapidamente.  Ela não está lá. Mas eu estou e o pássaro também.

                                                         Ismélia Rodrigues Monteiro

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