Numa cidade do interior vivia Elvira. Mulher de trinta anos, ainda solteira, professora , tímida e de hábitos simples. Sempre se apresentava socialmente de forma muito recatada, com movimentos corporais contidos e com um lindo e leve sorriso. Uma pessoa que passaria despercebida se não fosse pelo o fato de ser chamada de forma intermitente. Só Elvira escutava.Onde estivesse, vinha o chamado e imediatamente ela ia ao encontro daquela voz, o que as vezes a colocava em situação delicada , em casa, na rua, na escola, na igreja, onde estivesse . E assim, Elvira ia levando sua vida sob a tensão de não saber quem a chamava de forma tão intensa e freqüente e sob os olhares e comentários dos que não ouviam e não entendiam o chamamento. Mas Elvira em seu íntimo, queria dar rosto a voz. Ela dizia para as pessoas mais íntimas que era uma voz masculina, de uma sonoridade bonita de se ouvir. A vontade de personificar a voz a dominava, por isso procurava de onde estava vindo o chamado. Elvira ouvia, parava, virava e nada via, nem ela e nem ninguém. E assim o tempo foi passando, e ela ia procurando e procurando na esperança do encontro. A rotina foi ficando cada vez mais complicada e as pessoas preocupadas. A convenceram, de forma carinhosa e protetora a procurar ajuda.E assim iniciou-se todo um processo de tratamentos, medicamentos, aconselhamentos, mil vozes reais contra uma única imaginária. E aos poucos, dizem, que Elvira foi deixando de ouvir aquele chamado que de certa forma a movia, a nutria. O tempo passou. Hoje, quando se comenta o fato na cidade é como algo que ficou no passado. Afirmam que continua a mesma Elvira, quieta, tímida, recatada, de hábitos simples, porém, sem o seu leve sorriso .
Ismélia Rodrigues Monteiro
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